sexta-feira, 3 de agosto de 2012



Ontem ouvi sobre intimidade.
E fiquei pensando no que isso quer dizer.
O que significa ser íntimo de alguém.
Primeiro que tudo, esse alguém tem que querer ser íntimo da gente. Porque é uma via com dois sentidos.
Um e outro têm que abrir a alma, o coraçāo. As mentiras. O belo e o feio. O fácil e o difícil, o puro e o impuro.
Intimidade é verdade, antes de qualquer coisa.
E ficar nu, despido, vulnerável, sempre.
É receber, é dar, é não esperar em troca. 
Não tem a ver com crédito e nem débito.
Eu te percebo. Você me percebe.
Não te peço nada, mas você me dá o que tem. 
Te dou o que precisas e talvez o que eu não possua também.
Não foi assim desde o começo, mas foi ficando assim. 
Cada vez mais estreito, mais vital, mais surpreendente.
Adivinhamos o outro? Somos videntes entre nós? 
Somos tão próximos que nāo sei onde termino e onde você começa. 
Não te pergunto mais e, mesmo assim, você responde. 
Adivinhas? Adivinho eu? 
Sei no alô quando você precisa mais de mim. 
Sabes, pelo tom da minha voz, que quero falar e não precisar me arrepender depois. 
Posso tudo despejar em você e não me preocupar com o que caiu errado, o que caiu fora do lugar.  
Não nos preocupamos com a nossa bagunça, com a ordem, com nossas desordens...
Não temos regras entre nós. 
Não temos relógios, trajes, chaves e nem moedas. Não existem cerimônias entre nós.
Temos a simplicidade dos que vivem sem nada e muito possuem.
Com você e por você sou rica, te faço rico.
Nossa intimidade não tem medida, não tem dose certa. 
Uns a invejam. Outros tentam imitá-la. Bobagem.
Ela é única, entre íntimos.
E eu, demorei para perceber. Para entender.
Nem você, nem eu podemos nos livrar dela. Nem você, nem eu vamos nos esquecer dela.
Nossa intimidade nasceu um pedaço em mim, outro em você. E se uniram, os pedaços, se completaram quando nos encontramos. 
Mesmo quando desencontrados, conhecemos os caminhos e nos achamos mais em frente.
Hoje, quando me olho no espelho, te vejo lá. Atrás de mim, sobreposto a minha imagem, misturado com a minha verdade, completando o que sou, entendendo quem sou.
Nos meus olhos, encontro, cúmplices, os seus. 
No batimento de meu coração, reconheço o  seu ritmo tão particular.
Rimos juntos, calamos juntos. 
Durmo seu sono e você se alimenta do que não me servi. 
Não nos importamos em usar os mesmos talheres e dividimos nosso copo, nossa água, nossa água benta, se precisar. Nos alimentamos, um ao outro, com as mãos, e repartimos o nosso pão.
Faço a cama que você dorme e te cubro quando sentes frio. 
Quando amanhece, o cheiro do café preto e forte, que tanto gosto, me dá bom dia com sua voz, na mesa da minha cabeceira.
Levanto e, quando estou no chuveiro, cantando desafinada, rio sozinha ao lembrar da primeira vez que você me escutou acompanhar a Maria Bethania no rádio do carro. Você disse que não era possível cantar tão mal como eu. Mas disse isso de um jeito tão bom, que não me impediu de continuar cantando.
Hoje, cantamos juntos. 
Fazemos duetos. 
Mesmo desafinados, fazemos músicas. Somos instrumentos que andam juntos, que dão ritmo. 
Somos emoçāo à flor da pele. 
Somos arrepio e lágrimas.
Somos dor e alívio.
Somos íntimos, você e eu. 
Somos presentes um para o outro.
E o seremos pra sempre.

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