sexta-feira, 15 de junho de 2012

Que vida é essa? E quantos anos vou ter quando morrer? E quantos anos ainda, antes de morrer ( morte, mesmo ) viverei amortecida? Que vida é essa que fazem viver? Não gosto desse avanço da medicina, dessa tecnologia, que me mantem viva, pendurada por fios, marionete daquilo que fui, numa vida que não era mais para ser minha. Não gosto de acordar em dias que não eram do meu destino, da minha sina. Não queria mais passar insone inúmeras e longas noites de outros, não minhas. A vida ficou dolorosa, arrastada, descompassada, e eu, fiquei na pista sozinha, dançando sem par, uma música que não conheço. A ressonância, a imagem, a contagem, não são resultados meus, são resultados do que me tornaram e do que me tornei, para viver esses dias que não me pertencem. Como tudo era mais simples, quando morríamos na nossa hora de morrer! Era pá, pum... E o mundo não estaria hoje com 7 bilhōes de pessoas! E o mundo estaria agradecido, estaria dando conta.  Não faltaria água, nem comida. Não sobraria lixo. Não sobraria dor.  Quando morreram, os que morreram, porque não tinham direito à essa espetacular medicina, morreram em sua hora. Morreram dignamente. Morreram de uma única vez. Sem sofrimentos adicionais, sem acessórios de prolongar a vida... Mirabolantes procedimentos cirúrgicos. Intestinos acoplados, bixigas no estômago, hastes de titânio na coluna, clips no cérebro... E o ser humano vai vivendo mais do que era pra viver. Mas eu não queria isso. Não quero isso. Queria morrer na hora. Na minha hora certa. Já não tenho mais os amigos que tive.  Já não tenho mais parceiros, e se os tivesse, não sei para que serviriam. Já não ouvem mais minhas histórias, já não interesso a mais ninguém. Ninguém mais lembra do bonde como eu, ninguém mais divide memórias comigo. Ninguém me escuta, nem me deixam falar. Me atropelam, passam por cima e nem percebem. Estou só num mundo que não caibo. As fotos que guardo na gaveta são imagens que só eu conheço, que nada dizem a outro alguém. Não queria viver tanto. Não queria que minha vida tivesse sido alongada. Porque não adianta esse alongamento, sou como se já tivesse sido.  Sou a continuação sem sentido de um filme que já acabou. Minha pele sobra no corpo, não tem brilho, não tem cor, e não se lembra mais do que é ser tocada.  Não, não queria esse tempo que me deram. Só queria o meu tempo. Me colocaram no canto, numa fila que não queria estar. Vivo num tempo de espera. As pessoas em volta, nem me percebem, e quando, num descuido, nossos olhos cruzam, elas imediatamente desviam, para não perder seu tempo comigo. E o meu tempo sobra! Não sei o que fazer dele. Conto as horas para almoçar, conto as horas para o banho, conto as horas para dormir. E elas parecem não acabar. Sobram horas no meu viver. Já queria estar em paz. 

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